DEPOIMENTOS DE MORADORES DA ROCINHA


Depoimento sobre ROCINHA EM GERAL,

em 2012

"A Rocinha passou a viver com algumas intervenções dos governos federal, estadual e municipal a partir do PAC -Programa de Aceleração do Crescimento- que teve início em 2007. Infelizmente as reivindicações e desejos antigos dos moradores que há mais de quarenta anos vêm buscando melhorias para o conjunto da comunidade não foram atendidos pelo PAC. As propostas originais discutidas com os moradores e apresentadas aos representantes do PAC não foram cumpridas em relação às construções. Algumas obras de grande importância foram realizadas, porém outras permaneceram inacabadas como a Creche Modelo, Parque Ecológico e drenagem pluvial. O recapeamento da Rua 2 ficou pela metade, as casas e prédios foram comprados pelo Governo do Estado para o PAC seriam para uma possível praça. Um plano inclinado de ligação entre a R 2 e a rua do Valão, e outro plano inclinado no Morro da Roupa Suja não foram concluídos. É lamentável que as casas e prédios foram ocupadas por pessoas que não tinham onde morar, assim dizem! O desafio está em fazer com que o Estado, através da EMOP – Empresa de Obras Públicas e do consórcio de empresas privadas responsáveis, possam cumprir e dar continuidade às obras, pois várias são as reclamações e solicitações de explicações."

Depoimentos sobre CONSTRUÇÕES E MORADIA,

em 2010

“Quando uma família mora em uma casa pequena existem as dificuldades de se locomover. As crianças, desde que elas nascem e de acordo com faixa de idade, tem algumas exigências. Elas precisam de espaço para se mover, engatinhar, andar se agarrando. (Em uma) casa pequena, sem entrada de luz solar e pouco ventilada observam-se doenças que acarretam problemas respiratórios como asma. Isto tudo se dá nos espaços físicos pequenos, que contribuem pouco para o desenvolvimento da criança.”

“É diferente quando a criança tem uma casa pequena, mas tem quintal pra correr, pular, subir em árvore... as pessoas aqui só têm a sua casa que se limita da porta para dentro. Como adultos e crianças precisamos nos exercitar, isso é um grande complicador, precisamos de espaço.”

“São cubículos com espaço de 3x3, 2x2, de portas abertas. Imagina uma criança que por questões de saúde fica presa. As mães correm atrás de trabalho, o irmão mais velho de 8-7 anos é quem cuida do mais novo, que pode ser de 6 a 5 (anos) ou menos. Os perigos são eminentes. O que isto pode acarretar no crescimento de uma criança? Vários problemas no convívio social em um espaço pequeno. É comum a gente estar passando e ver uma criança subindo cento e poucos degraus, brincando.”

“A Rocinha hoje é castigada por muitas doenças. A tuberculose é o maior problema. As doenças respiratórias (são ocasionadas) por construir casas em lugares impróprios e muito juntas, sem ventilação, fechadas. Não sabia que isto poderia causar o mal que hoje está causando, e mais: a Rocinha tem um formato de bacia e as pessoas constroem muito junto. Com isto, há umidade, infiltrações, o mofo, a falta de ventilação. Muitos problemas, mas o pior de todos é a falta de informação.”

“A Rocinha é uma bacia. Têm bolsões como Boiadeiro, Barcelos e Via Apia. Lá é diferente, pois, teve um saneamento, era considerado um bairro diferente do resto da comunidade, tanto que tem sua associação. O pior de tudo isto, é que os pobres moram no porão ou com em apartamentos sem ventilação; nas outras áreas as pessoas fazem investimento, têm edifícios com 11 andares, por medo eles não deixam a gente entrar, mais cada lugar deste tem quantos apartamentos, quem construiu não pensou nisto.”

“O Bairro Barcelos, que inclui a Via Ápia e o Boiadeiro, apesar de ser criado comum planejamento diferente das demais áreas da Rocinha e parecer mais adequado e mais bonito, tem também construções com pouquíssima ventilação.”

“As áreas mais perigosas são as mais altas e as nas encostas, e como a Rocinha é um vale, muitas casas ficam em locais pendurados. Muitas casas à beira da encosta e sobre as valas não oferecem segurança nenhuma.”

Depoimentos sobre ORDENAMENTO URBANO,

em 2012

“A rede elétrica e os postes são um bem público, porém muitas empresas usam e ninguém se responsabiliza. Em muitos casos os postes pegam fogo por motivos de roubo de energia, pelas instalações mal feitas e sobrecarga. Faltam informações sobre a carga elétrica que cada localidade consome, assim acontece o problema dos apagões. O desafio seria cobrar da empresa responsável maior rigor na fiscalização e na ação educativa. Os postes sempre muito próximos às casas, lajes e janelas ocasionam acidentes com as crianças, ainda mais nas épocas de férias e feriados prolongados quando a criançada solta pipas ou brinca nas lajes.”

“A falta de acessibilidade, as calçadas irregulares cheias de obstáculos e postes no meio das calçadas criam e causam acidentes, e impedem a circulação das pessoas. O desafio para o ordenamento público é que se entenda a realidade das favelas e se cumpra o papel fiscalizador.”

em 2010

“Acredito que não temos áreas e espaços seguros para as crianças. Os espaços que conheço foram feitos pelos moradores: campinho da Macega, a quadra do Laboriaux e espaço do Umuarama. Eu não sei como esses espaços vão ficar, não tem lugar seguro e nem espaços de lazer. Tem as quadras das escolas que são abertas para comunidade, mas são para os alunos e depois das 17h, não estão disponíveis no final de semana. A única que fica aberta no final de semana é o pátio externo do CIEP Bento Rubião. Tem o campinho da Cachopinha do Li que ele faz o que pode, mas é um micro espaço. ”

“Já na parte mais baixa da comunidade existe a aglomeração, que contribui para ter tuberculose. A aglomeração é diferenciada aqui na parte do alto, de cima são os mais pobres e na parte de baixo edificada são os pobres que vivem no porão sem ventilação, em espaços de 2x2. As crianças ficam trancadas o dia inteiro, sem luz e quando saem e veem a luz, vai embora, estes lugares são sempre próximos as valas, quando saem dos barracos brincam nas valas. ”

Depoimentos sobre TRÂNSITO E TRANSPORTE,

em 2012

“O transporte público permanece precário, insuficiente e sem fiscalização, não atendendo a grande demanda. Os mais prejudicados são as crianças e os alunos da rede pública de educação. O transporte alternativo, além de ter os mesmos problemas, não transporta alunos da rede pública de forma gratuita e estão sempre lotados. O trânsito continua caótico das 6h do dia às 20h da noite. Permanece o estacionamento em locais proibidos. A sinalização é precária e persiste o desrespeito às leis de trânsito. O desafio é ter uma fiscalização que cumpra com a lei. Apesar de atualmente termos a CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro), órgão responsável pelo transito na cidade porem falta muito a fazer! ”

em 2010

“O transporte é a vergonha da Rocinha, tem transporte escolar que é pago, a firma não tem compromisso com a comunidade, e a comunidade não tem alternativa e os ônibus não tem segurança nenhuma, nada pensado para crianças de 0 a 8 anos. Muitas crianças estudam em escolas que ficam muito longe e são forçadas a ir de ônibus. Alguns pais e mães levam cinco a seis crianças, pois muitos pais trabalham e não tem quem leve. Não tem estrutura para levar as crianças deficientes, às vezes as crianças têm que dar lugar para outros sentar, a criança muitas vezes vai com o irmão mais velho e pior, com um desconhecido dentro do ônibus. ”

“A situação do transito na Rocinha é muito grave, temos problema de trânsito, das motos com altíssimos índices de acidentes, muita dificuldade de se locomover, sem espaço. ”

“... acidentes de motos são constantes, as mães e os pais carregam as crianças nas motos. Queimaduras, choques com fios elétricos dos emaranhados elétricos. ”

“O acesso é precário: o transporte público na Rocinha é praticamente inexistente, não tem segurança e a qualidade os ônibus é ruim, com atrasos e lotados, sempre quebram; o transporte alternativo não tem qualidade e nem segurança. ”